Sento-me curvada e observo os pequenos fragmentos de tempo, tento compreender as palavras ou a falta delas quando uma imagem simples me apareçe distraida, estarei eu aqui, finalmente situada à frente do tempo que sempre temi e com razão, não fosse o medo intemporal e eu julgar-me ia nessa lama passada que hoje me envolve e sufoca. Morri mais um pouco, morri sem conseguir perceber qual seria a explicação obvia para algo simples que figura a minha vida, permaneço inexpressiva perante a dor, continuo fatigada pelo cansaço do pensamento e dir-me-ia desperdiçada não fosse a memória estar baralhada e os dedos pareçer-me-iam já derrotados para muito lá do fim e jamais voltaria por mim, pelas unhas quebradiças e pela pele rasgada feita de abismos que se abriram a cada miragem perdida de mim, aqui e hoje, sabotada pelo presente perdida na lama do passado, não me vejo, sento-me e curvo-me, baixo o olhar para as mãos e elas não gritam, os dedos não me dizem nada de ti, nada de mim, rendo-me à tua razão dificil de digerir e finalmente já nada me sorri. Percorro apenas este caminho infernal destinado ao abandono, não estico os braços no ar nem espeto as unhas na carne, os numeros perseguem-me confusos, a mente fende sem abalar e vejo ainda um inferno qualquer familiar do qual me esquivo, rastejando e marcando a sangue todas as saidas que pela vontade ficam pela luta, que pela hábito ficam pela morte. Quase me fizeste quebrar, quase.