Tenho um monóculo e sou inofensiva.
É isso.
Agora, vou ver o Pickpocket porque é Domingo.
domingo, outubro 24, 2010
domingo, outubro 17, 2010
Dizia o outro que a criança que se comporta como um adulto é um monstro.
Portanto. Fui uma criança adulta. Fui um monstro.
Houve um cancro.Não houve lágrimas, houve medo.
Já sou adulta, ainda sou um monstro.
Os 11 anos que passaram foram para me desintegrar.
A vida é um vestido que não me serve.
Os números estão errados.
A mãe disse que ainda sou uma criança.
Sorri.
Não é verdade, mas também não é mentira.
Acho que é por isso que sou uma máquina.
sábado, outubro 16, 2010
Dia de todos os demónios
Sabes que a Marta perdeu a lucidez. Tiveram de passar dois dias, dois para te ridicularizar, culpar, esquecer, riscar. E agora acordou. Acordaste e não és ninguém. Porque te neguei infinitamente. Tenho medo, já não existes. Tenho medo da fragilidade. E das pessoas. Preciso-te. Temo tanto a solidão, meu amor.
Achas que vale a pena esperar? Ou a saída é o telhado?
Estou tão cansada. E tenho a solidão estendida no chão. Hoje, agora, duas e cinco, sinto. E tudo o que sinto é dor.
Quando é que chega, afinal, o dia indolor?
Etiquetas:
A dor estúpida de sempre,
Tu
sexta-feira, outubro 15, 2010
quarta-feira, outubro 13, 2010
Agora, a minha solidão vê-se melhor
I
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre à frente
Do que o teu próprio passo
(Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, Obra Poética III)
Piquenique mental matinal. Terminada a poesia e a prosa, vou ver um filme de Hiroshi Teshigahara. Distracções para a solidão não se ver melhor e que vão bem com uma gripe em pleno Outono.
E agora, um chá com mel.
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre à frente
Do que o teu próprio passo
(Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, Obra Poética III)
Piquenique mental matinal. Terminada a poesia e a prosa, vou ver um filme de Hiroshi Teshigahara. Distracções para a solidão não se ver melhor e que vão bem com uma gripe em pleno Outono.
E agora, um chá com mel.
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Sophia de Mello Breyner Andresen
domingo, outubro 10, 2010
Crónica/insónia
Sem pretexto e porque o blogue carece de imagens e porque me apetece.
E porque gosto de gatos, apesar de o frontman (frontcat?) ser amarelo e não haver nenhum branco.
Na próxima crónica/insónia falo sobre o debate que quero organizar sobre aquilo que me incomoda a sério.
Isto foi uma coisa parva. Ponto final. Boa noite.
Sou uma anémona-menina
A presença das pessoas incomoda-me. Seja ela física ou não. Na maioria das vezes ou me aborrecem de morte ou me provocam um nervosismo, uma ansiedade de tal modo desconcertante que mal sei agir. É uma coisa ridícula, bem sei. Mas é também uma coisa que me transcende.
E isto tudo para dizer, afinal, o quê?
Que após 21 anos de um longo e exaustivo raciocínio (sim, sou atormentada desde que nasci! (sorriso malicioso)), concluí que não gosto de pessoas, tirando umas quantas que nem contam por já estarem mortas.
A outra conclusão, ou direi antes, a verdadeira conclusão da única razão que fez escrever sobre isto, é que me incomoda receber visitas no blogue. Sim, até isso. Já sinto o nervosismo estúpido e muito característico da minha pessoa. Não tivesse tido eu a iluminação de criar mais um blogue, porque isto de escrever a preto e branco tem dias em que incomoda, portanto, resolvi escrever sobre azul e ser uma anémona-menina . O resultado foi uma referência à tão pequena e recém nascida anémona-menina por parte de um blogue que acompanho. O que levou a uma também pequena afluência de pessoas. Dito isto, e numa situação paradoxal, estou verdadeiramente aborrecida por saber que alguém me pode ler. É questionável se a finalidade de escrever é ser-se lido. Depende do indivíduo e da sua necessidade. Quanto a mim, julgo que não se adequa. Só quero ler, não quero ser lida.
Isto vem confirmar que abomino pessoas e que já não posso ser uma anémona-menina.
E olha que eu ainda era um feto, mergulhada em liquido amniótico de pó de ouro e magia. Diabos para as pessoas e os seus olhos que me obrigam a ser séria!
segunda-feira, outubro 04, 2010
Porque tu não tens nome existes
Reconheço este quarto impermeável
reconheço-te estás adormecido
o peito muito aberto as mãos luminosas
o grande talento dos teus dentes miúdos
Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível
Quando a manhã vier sairás comigo
para o espaço que nos falta para o amor
que nos falta
A aurora
está fatigada
a aurora
como um rio nosso
em torno dos elevadores
Tinha eu a idade
de um marselhês
silencioso
e tímido
Tu davas-me a lousa dos magos
o teu riso as letras
mais obscuras do alfabeto
Foi há muito tempo
ou agora
na caverna dos leões expressivos
A caverna que dá para a caverna
a caverna os lagos diligentes
Belo tu és belo
como um grande espaço cirúrgico
Porque tu não tens nome existes
A minha boca
sabe à tua boca
A minha boca
perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las
Disse que és alto
alto
branco e despovoado
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Uma Grande Razão)
reconheço-te estás adormecido
o peito muito aberto as mãos luminosas
o grande talento dos teus dentes miúdos
Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível
Quando a manhã vier sairás comigo
para o espaço que nos falta para o amor
que nos falta
A aurora
está fatigada
a aurora
como um rio nosso
em torno dos elevadores
Tinha eu a idade
de um marselhês
silencioso
e tímido
Tu davas-me a lousa dos magos
o teu riso as letras
mais obscuras do alfabeto
Foi há muito tempo
ou agora
na caverna dos leões expressivos
A caverna que dá para a caverna
a caverna os lagos diligentes
Belo tu és belo
como um grande espaço cirúrgico
Porque tu não tens nome existes
A minha boca
sabe à tua boca
A minha boca
perdeu a memória
não pode falar as palavras
entram no seu túnel
e não é preciso segui-las
Disse que és alto
alto
branco e despovoado
(Mário Cesariny de Vasconcelos, Uma Grande Razão)
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