« (…)
Seguro na tua mão
e limpo-te a boca ao de leve.
sinto a tua mão gelada a apertar a minha.
Há vários dias que nem força tens para falar.
Agora o movimento da tua boca
indica que balbucias alguma coisa,
mas é impossível entender ao certo
o que me queres dizer.
Ergues, moribundo, as sobrancelhas
e olhas de novo na minha direcção.
Fitas-me com o mesmo sorriso na boca,
com a mesma expressão de horror nos olhos.
Abres mais o sorriso,
intensificas a expressão horrorizada
de quem sente de repente
a morte muito mais perto.
Balbucias de novo qualquer coisa,
mas é impossível entender ao certo
o que me queres dizer.»
(Frederico Lourenço, Santo Asinha e Outros Poemas)
Maldita idade que não é eterna, maldita morte que nos rouba a beleza da vida. Ninguém tão simples e sábio devia morrer. Ninguém.
O poema lembra-me o avô moribundo, lembra-me a chegada da sua morte e o arrancar-lhe da magia. Lembra-me isso tudo e dá-me a certeza de que nunca hei-de compreender a morte da vida.
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