sábado, maio 19, 2007

não está tudo dito.
as horas estão a matar-me e isso é o que menos importa. uma cama não serve. as pessoas que me rodeiam não servem. o chão não serve. eu não sirvo. eu nasci para não caber neste mundo. lugar. ou qualquer coisa que lhe possa chamar. mundo, mundo, mundo. mundo não. mundo é muito e menos que isso é pouco. o sol não vai embora. e os olhos insistem em ficar abertos. se ao menos valesse apena. hoje vale ainda menos. dantes eu tinha um nome. e da ultima vez que deixei cair umas palavras ainda me fui lembrar dele. mas que merda sermos só um monte de nomes. eu tenho quatro. um é sabedoria. e sabedoria é coisa que também não serve muito em mim. café, sol e sabado. sol e sabado até que podiam combinar, não para mim, mas é de todo aceitável. uma caneca de café, sol e sabado. não, não combina. uma caneca de café, frio e sabado. sim. as máquinas de lavar roupa também não servem. as pessoas insistentes também não. se ao menos o barulho parasse. e as pessoas se calassem de vez. mas o melhor é ser-se irritante e ouvir a menina sem nome ou a menina que dantes tinha um nome, gritar, gritar e gritar. nervosismo e café. e eu que só queria paz e o meu canto para ficar. o meu canto das das horas que em que doi, bem que podia ser o meu canto quase a tempo inteiro. a menina nasceu para ficar lá a ouvir cair as palavras e a chuva e ter uma caneca de café quente do lado direito ou outro qualquer. seja como for a menina não pode ficar aí. seja como for a menina volta aqui, desperdiça um bocado de tempo e maltrata as palavras. depois, se a tivesse, voltava para uma varanda. de noite. e também se o fizesse fumava um cigarro. não há varanda, não há cigarros. apesar de haver telhado, e o telhado é bem melhor que a varanda, o telhado é alto demais e os senhores inconvenientes não acham grande ideia ir-se lá para cima. os senhores deviam pensar mais no que dizem. se pensarem bem, eu só ia estar mais perto do deus deles. e nada melhor que um telhado e um deus. um deus de noite e um cigarro na mão. um gato branco no jardim, deitado perto de uma arvore. nem ele tem nome. é meu, e é por isso que não tem nome. tem o que quiser quando quiser. está quieto e calado. não discutimos. eu estou no telhado. e ele está ali, aleijado de uma pata da frente à qual prefiro chamar mão. ou mãozinha porque é pequena. ele tem a sorte de me ter a mim. não lhe dei um nome. por mim também não me tinham dado nenhum. é como baptizar alguém. és disto e está acabado. se não gostas. muda. e como é que se muda um nome para nome nenhum? nós gostamos de obrigar alguém a alguma coisa e está dito. o contrário é mentira. não queres um deus mas tens um. não queres um nome, tens quatro. queres gente calada e só o gato é que não fala. até a máquina de lavar roupa incomoda. muito mais que o aspirador. o aspirador é diferente. não faz um barulho irritante a cada 2 segundos, faz todo de uma vez só. aspirador e aspiratudo. tem um nome bonito. ao contrário da máquina de lavar roupa que tem quase tantos nomes como eu. falta-lhe um. um número. na vida temos na maior parte das vezes só dois. os que têm três já não mudam mais. só temos uma vida. e diga-se de passagem que a minha é um desperdicio. mas deus entende dar vida a individuos sem a menor aptidão para a aproveitarem. viva o nosso deus então. não rejeita sujeitos deprimentes como eu. eu devia pareçer ter os dois números que tenho. na verdade não. a menina de nome pareçe uma menina menina. vendo bem isso ou é muito mau ou bom demais. a menina pareçe uma menina dependente de drogas incrivelmente deprimente. gosta de chãos e de letra e de cafés e de paz. e não gosta assim tanto do deus porque lhe deu uma jaula eu forma de corpo. meninas assim já não são bonitas. meninas assim acabam sempre a dizer e fazer coisas sem sentido. meninas assim não têm jeito nenhum. nem motivo nenhum. nem mereçer nenhum. meninas assim já não sabem o quanto são meninas. a menina continua a gostar de cores e de musica e de danças. fica no seu canto, mas o seu canto tem isso e mais aquilo tudo de ao bocado. já nem pareçe tão mau. depois há as outras meninas. que se pareçem com os numeros delas, isto é, não pareçem nem menos nem mais. são tanto dali que eu às vezes gostava de ser assim, uma menina que se pareça com os seus numeros. isto também devia deixar de ser confuso. e a menina arranja alguma coisa que fazer. pára de tentar fechar os olhos se eles querem ficar abertos, salta cá pra baixo e deixa o deus lá em cima. e quem sabe os numeros encaixam. e as coisas já são o que devem ser. sem se precisar tanto de palavras e de numeros certos. e palavras brancas em fundos pretos e palavras pretas em fundos brancos e palavras a brilhar. e coisas de gente alucinada assim assim. cansada e sem nada para fazer e sem nada para querer pensar. o melhor disto é ninguém ler. o melhor é eu saber isso. o melhor é eu poder escrever tudo o que quiser. seja como for, se o lessêm também o faria. isto é uma espécia de histerismo disfarçado. não me lembro dele nem me lembro de mim, aquela não sou eu, nem aquele é o meu gato, a verdade disto tudo só pode estar no senhor deus. sim. sem dúvida que sim. e agora já está tudo dito. mesmo sem ter dito nada que valha apena ler. está tudo.

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