segunda-feira, janeiro 01, 2007

Provavelmente a minha estúpida vida vai continuar a mesma coisa, não interessa o facto de se ser infeliz ou ingrato. somos sempre demasiado jovens para nos aperceber-mos do que temos. para dar o devido valor às pessoas. para darmos valor à vida por mais estúpida que seja. tenho 18 anos. e como a maioria das pessoas dizem isto há-de passar. ou talvez não e apenas o corpo cresça mais e se aprendam meia duzia de tretas que faremos delas lições de vida. vou sempre generalizar a minha situação pra me confortar pensando que isso é o melhor. que há quem seja como eu. grande ideia a minha. que conforto há em saber que há quem assim seja? que se sinta infeliz. não gosto de me dizer infeliz ou de me sentir. infeliz é alguém que perde alguém, infelizes são os que vivem em situações de pobreza extrema. e eu. eu nem infeliz me posso dizer. tenho tudo o que um ser normal pode desejar. tenho uma familia. uma casa. tenho tanto e tão pouco. eu já não sinto. já não convivo com as pessoas. eu fiquei parada entre o ser feliz e infeliz. e ninguém arranjou uma descrição para o meio termo em que me encontro. talvez fosse estabilidade. estabilidade quê? racional? mental? não. não me pareçe que me sinta estável em qualquer ponto da minha vida. olhando-me não consigo ver a normalidade do meu ser. não consigo contemplar nada em mim. não me consigo respeitar. nem respeitar mais ninguém. a familia tornou-se distante. eles acham que isto é uma fase e agora tendem a ignorar o facto de eu nunca sair de casa. ainda me julgam feliz. bastante inocente e bastante normal. lá no fundo acham que tenho mesmo amigos na escola ou em algum lado. nunca recebi uma pergunta por parte deles em quererem saber se sou feliz. acham sempre que tenho um namoradinho escondido algures e que faço como todas as raparigas da minha idade tudo. e se lhes dissesse o que não sou? quanto lhes ia pesar isso? e se soubessem quantas vezes choro por estar sózinha? não sei até que ponto mudariam as coisas. até que ponto melhorariam. até que ponto me iam achar louca e me internariam num manicômio. os loucos já não se apercebem mais da sua situação penso eu. não estão cientes do que sentem, nem agem de forma normal. talvez. ou talvez não. nunca vou poder saber. e se também se sentissem abandonados? e se tivesse alguém para desabafar. como é ter alguém a quem contar isto? e poder chorar. chorar até não doer mais. em quê que me tornei? que familia desfeita é esta. o ano começa e vai-se dormir. já não se festeja mais nada. a vida já não se deseja. os sonhos já não precisam ser pedidos. isto é vazio. e não há ninguém aqui. ninguém a ler isto. não faço pedidos estúpidos porque ao acaso sonho com alguém que vejo constantemente. sei-lhe o nome. e que saberá ele de mim? nada. nada é suficiente para alguém como eu não é? isto é estupido. e não mereço a vida que tenho. quem hei-de mereçer eu então? se é que a vida é feita de se mereçer alguém ou não.


Sem comentários: