quinta-feira, abril 12, 2007

já não me quero perceber. não me quero importar se estás aí ou não. continuo a sentir em tudo vazio. tudo sem sentido. e isso agora não me preocupa. não tanto como dantes quando remoia dias seguidos o mesmo pensamento até ter outro tão parecido como o anterior. continuas a ser a coisa perfeita. continuas ali a ser alguém que me diz tanta coisa nos movimentos, no comportamento e na fala que não ouço. continuo a ver-te. continuo agarrada à música, quero que me traga tudo de novo da mesma maneira, com a mesma intensidade. não trouxe nada. apenas deve ter deixado de fazer sentido sentir-te. não foi sempre tão sem sentido isso? nunca deixou de haver distância ou frieza em cada percepção tua. nunca deixou de haver aquele pequeno sentimento de vergonha por me sentir ridiculamente fixada a ti. foi sempre assim. sem excepção. não se tornou cansativo. apenas repetitivo. nem quando os olhos quase rebentavam de lágrimas por nada mudar, por te continuar a ver virar costas e me deixares a fazer o mesmo a mim própria. devo ter-me esqueçido de me lembrar de mim sempre que deixei que todos os dias fossem uma merda. esqueçi-me de lá estar quando tu estavas. como é que me ia ver? como é que me ia ver se tinha o corpo colado ao chão e os olhos a rebentar? não podia deixar de admirar a tua perfeição e esqueçer-me de tudo assim de rajada. não podes ser tu e só tu.nem posso ser eu e tu. não pode[mos] ser nada, nunca. não devia ser fácil saber isto antes que o ponteiro nos gritasse e no final de contas já não valer mais apenas acordar? estou penturada à porta de cada, sim, pendurada na porta de casa. não me apeteçe entrar. não quero mais saber o caminho do lugar onde me fecho. não vale apena querer lá estar infinitamente a esconder-me. ficou vazio. ficou incolor. sem sabor. ficou assim quando o ponteiro fugiu. e eu fiz questão de o encher de cor. de pintar e colar tudo o que pinto. eu fiz questão de me mentir e dizer que ali é o meu lugar. e que ali se está bem como tu estás em qualquer memória que me acrescentas ou apagas. ficas bem em ti e isso chegou-me para te gostar. eu não tenho de ficar bem em mim. nem tenho de ficar mim. não te consigo tirar daqui. não te consigo puxar sem me importar se isso vai acabar por nos levar aos dois. fico pendurada à porta de casa à espera de chegar até mim até matar a estúpida vontade de te querer ver. não vou entrar ali. é isso que penso e mais nada. passa um segundo. passam dois e mais. dez chegam-me para me tirar dali. tenho tanto a certeza que não vais estar ali. não vais chegar a ser a pessoa que me diz olá mesmo sem me conheçer. sei isso. e tiro-me dali. não faz sentido ficar à espera se não vais chegar.não sou perfeita para ti. não que isso me chegue de resposta. mas resolvi mandar-me calar. cantar-me baixinho e tentar acalmar-me. acabaram-se por hoje os monólogos a dois. entre mim e entre ti.

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