quarta-feira, novembro 22, 2006


Sempre que inspirares mais fundo os pulmões vão doer-te, és tu a sentir-te. Olhas para o poço. Ele engoliu-te. Vês-te lá dentro do lado de fora. Não tens luz nem uma mão a querer puxar por ti. Doiem-te os pulmões. Talvez te tenhas afogado. Sentes-te estranho e não chegas a saber. Estas cansado de pensar e sentir. Inspira de novo e não grites por ajuda. Tu foste sempre o que se pronunciou de boca fechada. Quando se está no fundo do poço a boca abre-se e a água entra. Não podes pedir ajuda nem sair daí. Esperas que o tempo te leve e quando te virem és só ossos sem pele. A alma já não grita e os olhos perderam-se lá no fundo e são confundidos com pedras. Não chegas-te a ver a luz brilhante e a sentir as retinas queimar por teres visto o sol. Foi sempre tudo no escuro. Uma vida no escuro. Estás no fundo do poço e não sabes como. Não compreendes o mundo porque nunca o chegas-te a ver. As pessoas não te maltratam nem te olham de canto ou julgam. porque nunca te viram. ninguém sabe de ti nem tu de ninguém. não tens saudades porque nunca houveram lembranças. não tens nada. e flutuas em ti. no teu nada. e sim. doem-te os pulmões. também ninguém te disse que era coração que se chamava.

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