quarta-feira, dezembro 30, 2009

Vivre sa vie

Sans toi



(Cléo de 5 à 7, Agnès Varda, 1962)

terça-feira, dezembro 22, 2009

sábado, novembro 07, 2009

Ariel

Dying is an art,
like everything else. 
I do it exceptionally well. 
I do it so it feels like hell. 
I do it so it feels real. 
I guess you could say 
I've a call.

Lady Lazarus by Sylvia Plath

domingo, novembro 01, 2009

é outono. e as folhas caiem incertas.

arrasto-me

perdi o sentido da distancia, do tempo e da memória.

tudo parece um terrivel engano ou uma verdade incerta que terei irremediávelmente de aceitar

não me ajusto a nada, nem a isto que sou

minto-me, por toda a tristeza que mereço por nada.

agora é tarde demais.

Profundo demais para encontrar a razão do sangramento.

sangramento ou dor, ou inexistência ridicula que teimo não viver.

o meu corpo é isso mesmo,

um peso morto que carrego, que vou arrastanto por aí na solidão constante.

passa tudo em pensamentos sobrepostos de loucura

e assim, vou esqueçendo quando é que me perdi para o outro lado.

o lado avesso da vida.

esse lado quase morto e cego que se arrasta no esquecimento.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Esta Velha Angústia

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

Álvaro de Campos, in "Poemas"

domingo, outubro 11, 2009

Eu não prometi nada ou tampouco esperei o que quer que fosse. Deviam fazer o mesmo e esperar somente nada de mim. 
Que outro rosto esperam? Algo que temem? Tão profundo e insensível. Tão dolorosamente só. o ser. a alma pesada. o aspecto complexo que deixar-vos ia perplexos. o reflexo daquilo que afinal sou. Insuportavelmente só. Quebrada por fora até ao fim da alma. 

Não. Não vos quero definitivamente mais. não vos preciso aqui a adivinhar quem sou. a ignorar todos os dias o espectro que vagueia perante vós. 

longe daqui, sem nada por dentro.


Piano e poesia.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Derrotada e com saudades do meu gato.


Quase morta,  nada humana.


Sem memória da memória.


Só.
Dor.

terça-feira, agosto 18, 2009

eu sou o resultado do isolamento e estou em guerra.





domingo, agosto 16, 2009

é tudo uma aparente falta de vontade. é tudo uma questão de me sentir uma criatura perfeitamente ingénua porque sei que o meu mestre me vai pedir explicações, porque sei que todos me vão questionar, porque sei que não posso responder que é só tudo uma aparente e grande falta de convicção e coragem e essas coisas de meninas bravas que me fazem falta. raios e raios. eu não sou uma menina brava. eu sou um desassossego e vivo nesta tortura de imperfeição eterna. é nestas alturas que fazem falta as pessoas, aquelas que nos dão a resposta correcta e directa e que nos dizem coisas com sentido. é nestas alturas que acaba a dor e a loucura, ou talvez seja apenas uma necessidade de recomeçar, porque alguém nos vê. e eu tenho medo dos olhos, tenho medo que vejam o fracasso e a solidão.
porque a verdade é que duvidei tanto de mim que não soube mais como agir.
tudo porque me faltam as pessoas com palavras. tudo porque a marta é uma coisa que não sabe agir sózinha. precisa sempre do interesse de alguém para saber e perceber que afinal tudo correr bem, precisa outravez disso para poder acabar melhor, ao menos desta vez.
e a marta vai estudar, vai saber as coisas e não é só porque sim, mas porque tem de as saber. e vai fazer isso tudo todos os dias para quando voltar não pareçer tão ridicula e irracional quanto as suas mentiras de verdade.

domingo, agosto 02, 2009



o meu gato está morto. possivelmente eu também.

um dia destes eu tenho coragem e choro. ponto final.
um dia destes eu tenho coragem e grito. ponto final.
um dia destes, como este dia, eu tenho medo de tudo e de mim nada.
um dia destes os dias deixam de ser como este.
pim pam pum.

domingo, junho 14, 2009

there is nothing between us

não há nada entre nós porque nada em mim conheces. tudo em ti me cansa e este sofrimento que não vês, e o esforço que faço por manter-me aqui devasta o meu ser. era simples presumir que entre nós há tudo, tudo tão excessivamente, tudo. e tu permaneces cega, enquanto fico ao abandono e só em mim. faltam-me todas as certezas. falta-me gritar-te isto, o meu mundo de desgraças. não quero ser tu, não te quero, e vejo-me obrigada a isto, sinto-me cruelmente ingrata perante ti, brotaste um ser indeciso, brotaste isto inútil e culpo-te por me criares à margem do normal, eu sei que desprezo isso tanto, mas por vezes a estranheza do ser é esta contradição. e não devia de existir nenhuma responsabilidade quase que vitalícia entre nós sobre aquilo que somos. não sei porque assumimos tudo de todos, e nem sei porque me torno em ti quando tu não podes ser ninguém, nem mesmo tu. afinal, eu fico imóvel, pego em ti e dou continuidade à tua vida. faço-o sem questionar, tal e qual quando me geraste e mantiveste vivo isto que sou. mas é tudo inútil e mecánico e sujo, fazemos isto porque a realidade exige obrigatóriamente uma personagem. o percurso é tóxico, e na memória resta um teatro de marionetas, demasiadas faces e inumeros lugares indeterminados. o sangue liga o real que somos e o estranho termina algures entre o meu ser, o teu abandono e o enorme vazio desconheçido.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Eu não queria nada ter medo de ti. não me queria a ser estranha contigo, e talvez tudo se deva ao facto de nem gostar de mim e de achar que tu não vás gostar de mim. A marta é assim, perde-se de tudo, e quando regressa já não lembra quem tu és e muito menos aquilo que foi contigo. Talvez seja um refugio, o tal botão que de tão automático logo me desliga. E passas-me ao lado, faco mais uma promessa com a intensão de algum dia voltar, quem sabe não deixe passar mais um ano, quem sabe.
Eu não.

a marta já nem sequer vive em mim.

domingo, janeiro 18, 2009

insatisfeita de mim.

eu devia poder muito mais. eu não devia desiludir ninguém. tudo deveria ser uma questão de honra e errar não devia ser humano. e eu erro. e eu não sou sempre a melhor. e eu devia ser a melhor mesmo quanto ninguém pede isso. e eu sou a única que vê imperfeição em tudo o que faz.


tudo o que me falta é sentir.

conseguir chorar e sorrir.

e deixar de ter medo.