terça-feira, agosto 31, 2010

segunda-feira, agosto 30, 2010

Com os olhos, sobre os olhos.


(Moreau, Orpheus)

Ver é sentir. 
Ver, ver pensando, ver ignorando. Sobre os olhos, os meus, que vêem através da negrura eterna, o sonho sonhado, o sonho vivido e o sonho perdido. Os mesmos que sem mudar, me esculpiram por dentro. Humedecidos por fora. Lembro-os com o brilho eterno, de quando era jovem, ainda mais jovem. Por eles tudo via, tudo sentia. Tudo estremecia. E sempre me falhavam quando confrontados com outros, eram subitamente vermelhos, estavam subitamente cobertos por lágrimas. Eram, desta forma, como o coração, incapaz de se ver noutro. Os olhos, os meus, há quem os diga triste, os olhos, os meus, digo-os felizes, pois sem eles jamais poderia ter-te contemplado. Com eles e sobre eles, a realidade vivida e o sonho sonhado, sem eles, ou de olhos fechados, a negrura eterna, o preto e branco, mais preto que branco.  Eles, meus mas não meus. Meus, cada vez mais meus. Sem eles, Orpheu não seria o mesmo. Com eles, Orpheu se demora fazendo-me sonhar acordada. Tudo se prolonga para lá deles, e eles, por fora, que tristes mentem. 



domingo, agosto 29, 2010

Parece que afinal ainda é Domingo e que isto não é um título. ponto.

acordo e ainda é domingo. 

raramente escrevo a palavra amor, raramente escrevo aquilo que não sinto. o mais estranho é que não te sinto, o mais estranho é que só te penso. porque tu infiltras-te 'aqui', no lado secreto do coração.  Os amores dantes sabiam a outra coisa menos racional, sentiam-se e bastava-me. raramente cansavam ou doiam. acho que a idade tende a matar 'isto' que sou. e o que sou afasta-se tanto das palavras doces e simples que fui. não era suposto elas falharem-me desta maneira, não era suposto petrificarem no peito com a dor, porque assim não sou eu, assim sou só a Marta. e isso nunca me chega, ficar do lado avesso da vida, do lado negro dos sonhos. Talvez sejas demasiado poético para caber na profundidade do meu peito e eu demasiado racional para de te sentir. porque os amores são, afinal de contas, para se sentirem, não é para fazer sentido.

domingo sempre me soube aos dias longos, onde tudo é puro e límpido e as memórias sem substância. ao domingo acreditava nas histórias de amor, na possibilidade de elas caberem nestas mãos, de caberem, no fundo, em mim. porque o ar carrega leveza e, ao domingo, não me apetece um coração emprestado. 


ao domingo as coisas não são obrigadas a fazer sentido. as palavras não precisam de ser maiúsculas. porra, ao domingo não me devia desintegrar, a culpa é do amor egoísta, a culpa é da Marta que já não acredita em histórias de amor e que raramente diz amor porque o sente. 

vou continuar a dormir até não ser domingo.
Boa noite.


Não faças esse ar cansado para me fazeres sentir estranha, afinal, só te queria falar de poesia e de mitologia. é que às vezes apetecia-me partilhar contigo aquilo que sei porque, sabes, já não faz sentido partilhar aquilo que sinto.  




sábado, agosto 28, 2010



Poderia haver frieza e doçura num só coração? Coração meu que tudo em mim bombeia, a duvida me percorre, o cansaço, o medo de me perder na implosão e de por fim calcificar e criar raizes nesta solidão. quem me fez assim triste não te sabia ainda. porque me dizes tu, com toda a certeza, que trago brilho em meus olhos, se nunca a negrura deles viste. perder-te-ias só de os ver. pérolas, pérolas nos olhos e no coração.

quarta-feira, agosto 25, 2010

A consciência diz-me incapaz de te apreender. Apreender com todos os neurónios, dizias tu. Como se fossemos só isto mecânico, simples e compreensível. Não, não somos. Somos alma, almas irrequietas, que pensam e recusam quando querem, tudo quanto querem. 

Maldita lucidez do espírito. Que veneno tens tu, porque lhe chamas magia e me corróis a alma de incerteza?

terça-feira, agosto 24, 2010

E se o brilho dos meus olhos se desvanecer? 

Que duvidas restar-te-iam sobre mim. Sobre o meu coração frio e distante, empoeirado e negro. E vazio, vazio de sensações, atacado pelo medo da dúvida. 

Ninguém como eu te basta.  

quinta-feira, agosto 12, 2010

Sem memória

Haverá para os dias sem memória
outro nome que não seja morte?
Morte das coisas limpas, leves:
manhã rente às colinas,
a luz do corpo levada aos lábios,
os primeiros lilases do jardim.
Haverá outro nome para o lugar
onde não há lembranças de ti?

(Eugénio de Andrade, O outro nome da terra)