quarta-feira, janeiro 31, 2007

Eu estou do lado de cá a ver-te passar. Eu estou do lado de cá a deixar-te ver-me cair. Não consigo fugir da apatia. não consigo porque eu sou a apatia. as coisas deixaram de ter o mesmo significado e agora tudo está claro. eu quero ir embora. não, eu não vou pegar num bilhete e ir de comboio até à ultima estação. eu quero ir de ir. eu quero ir por não ter mais nada que me faça sentir. e quero deixar de sentir a dor da apatia. e deixar de ter empatia por desconheçidos. não quero mais a marta. ela não sabe viver. eu quero ir-me embora da marta. sinto-me presa. presa em mim. estou cansada de representar. de pareçer feliz. e forte. não tenho destino. nem presença. e devo de o mereçer por todas as vezes que fui cabra comigo...mas isso cansa. cansa e eu quero ir-me embora. despareçer. não consigo calar-me por dentro. eu estou a gritar. eu vou gritar. e vou continuar a sofrer. e vou continuar a não saber agir. e depois vou dançar ao som da minha tristeza e ouvir a minha vida toda. e dança-la. e senti-la e não vivê-la porque foi sempre isso que soube fazer.

Eu estou sentada no chão. e estou a ver todos sairem porta fora. olham e eu sou só mais uma estranha. estamos num antro de estranhos cada um no seu mundinho e pequeno pedaço de nada. uns fazem-se acompanhar por outros. outros tantos estranhos fazem questão de contar em detalhe o seu dia anterior. eu. como os outros. tenho uma estranha perto de mim que conta repetidamente o seu dia de ontem. tenho metade da cabeça ocupada a querer cantar e outra metade a ouvi-la. ela acaba e a cabeça encheçe por completo. acho que fica á espera que lhe conte qualquer coisa. mas não me apeteçe falar com estranhos mesmo que eles façam questão de falar para um ser como eu. Estamos naquele antro. e contam-se os grupos. uma infinidade deles. às vezes de relançe olham-me. ou sou eu que os olho continuamente. consigo intimida-los e fazer com que retomem à conversa que poderei até estar a invejar ou a detestar. confesso a mim mesma que não me importava de conheçer aqueles cinco ou seis estranhos apesar de repudiar todo o resto. ali eu sou uma estranha mais estranha que eles. eles teêm-se uns aos outros e revelam-se mesmo que com medo. não devem gastar demasiado tempo a gritar por dentro e gastar tudo o que têm deles só porque fazem questão de arder sempre mais. é desconfortável ser-se estranha no meio deles. e observá-los e ás vezes repudiá-los e não conheçe-los.

terça-feira, janeiro 30, 2007

segunda-feira, janeiro 29, 2007

A mamã e o papa sofrem de uma coisa chamada estupidez...é nesta altura em que devia dizer-lhes para se irem foder. A Marta fica cansada de certas e determinadas merdas e nunca os mandou foder porque ainda os respeita e eles são a mamã e o papa e afinal de contas já se cansou deles à tanto tempo que pouca importância lhes dá. menos hoje.
A Marta não é uma boa filha ou eles não são bons papás. não sei. e isso também não interessa.
mas a marta continua a não ser normal. o quê que há de errado afinal? merda merda e merda. a marta às vezes tem coisas destas. loucuras destas. merdinhas destas. consegue ser uma cabra mal educada.

Chás ou chocolates quentes são sempre bons nesta altura. a alma descongela e consigo ser menos fria comigo porque a eles como disse não os mandei foder mas fiquei cansada deles por isso o resultado foi o mesmo. Indiferença.
eu não sou uma pessoa normal...e vá-se lá saber o que é uma pessoas normal. como é uma pessoa normal e onde estão as pessoas normais. o interessante da teoria sociológica é haver sempre resposta para tudo, até para seres como eu....e pessoas como eu devem ser os desencaixados sociais que ao que se diz podem passar por momentos de frustração dado que não têm grupo de pertença e se têm um de referência não estão lá como é obvio.
e não me vejo a pertençer ao meu grupo de referência não acho que fosse gostar de pessoas elitistas como eles apesar de todos os gostos que possamos ter em comum. enfim. desencaixada.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Sou, sou mesmo mais do que essa estranha, despreocupada e triste. sou a anormal que se descobre dia após dia. sou a doente. sou a fútil. sou a anórexica em mente e a gorda em corpo. sou esse tormento que gerou a minha solidão. que levou todos e quaisquer amigos. que trouxe a triste. sou o detestar-me. sou o odiar-me. sou o querer-me fazer mal. sou o pedir desculpas pelo meu mero existir. sou a loucura que me mata. sou o local sem saída. sou a parede riscada. sou a desgraçada que se esconde do mundo porque já não sabe mais viver. sou a miserável que chora quando se escreve. sou a egoista que desaprendeu a ver os outros. sou a abandonada. a puta da abandonada. e a malcriada. sou o indesejado ser humano. e doi. porra que doi saber tanta verdade. e chorar. e ficar cansada de tudo. e com medo de tudo e estar perdida sempre demasiado perdida.

sábado, janeiro 20, 2007

Tu nunca irás saber aquilo que me deste a conheçer, tu nunca saberás o porquê de eu te olhar, tu nunca vais saber que vivo nas palavras e que quando me vês e eu te olho é isso que faz valer apena qualquer coisa . tu podes ser a mentira. a cruel mentira. e o ódio que vem depois. mas agora és tu. és tu o meu tempo. és tu que te vais corromper e eu vou continuar a arrastar-me contigo. não vais ler-te aqui, não me vais perceber aqui e vais saber-me a amargo. vamos estar demasiado distantes quando algum dia estivermos próximos com todo o mal do ódio e o sabor amargo do abandono. é nisso que te tornas meu admirável desconheçido. é em ti que paraliso e me apercebo que tudo o que nos unia num olhar nos afasta hoje num desprezável olhar teu. não sabes nem nunca o terás que saber. hoje basta-me o desprezar e o meu humilhante desviar de olhar e a ti a tua fuga.

Talvez me vejas como uma estranha como eu ás vezes me vejo. mas eu sou mais do que esse ar despreocupado e triste.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Os olhos morreram e agora já não te vejo amor. nem sei a tua cor. nem sei o teu lugar. nunca mais te vou sentir. nunca mais me vais doer. eu prometi-me. nunca mais ia doer aqui nada. nunca mais ninguém ia arder. eu nunca mais me perdia assim. devia ter ficado com o azul dos dias em mim. e recordar-te sempre para sempre. e tu vais-te daqui porque já não há cor e os olhos são cegos. isso seca-me o coração. hoje ele é oco. e faz-me doer por dentro e faz-me gritar e arranhar por fora. não sei mais de ti. e era melhor ter-te aqui a passar em filme à noite e ver tudo aquilo que não chegamos a fazer tornar-se quase verdade. acordar é dor. tira-nos a vida de dentro. e é tudo confuso. e derrepente tudo é solidão. as mãos erguem-se no vazio à procura de vida. e só há paredes. paredes para levarem tudo. para arranhar. e o barulho são as plantas e os moveis que o fazem. e o choro e o desespero voltam com medo. e tu vais. afinal tu vais sempre embora sem lembrar a morte. e eles acordam de novo e enchem-me o vazio. o meu vazio desesperado e assustado.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Aonde está o coração? O meu? Na caixa toráxica não? O meu anda algures por ai. dentro de uma caixa perdido do destinatário. O melhor é mandar de novo pra ver se chega lá. e se nunca mais vem? afinal quantos tens? manda um de faz de conta que também serve. sim. um de faz de conta, como no desenho na parede mas a vermelho. sim pode ser esse.
Podiam chamar-me idiota que eu não me importava. Podiam chamar-me o que quiserem para eu ouvir o que devo ouvir. Eu devia saber que não basta querer nem gostar. mas eu sou uma coisinha pequena que pensa com o coração. oh coisinha idiota que não sabe. eu não sei. e agora ainda tenho desculpa. e depois? depois já não há desculpas porque o tempo passou e pensa-se mas com menos coração. e depois não sei se quero proibir a marta de sofrer porque ela pensa com o coração. isso ia ser mais racional e ela ia ver como afinal é ela que cruza o seu olhar com o dele e que ele nem sabe que ela existe, mas isso ia doer mais, e os pianos iam fazê-la chorar, então ela pensa com o coração, mas vai doer mais e vai voltar a pensar fugir da vida como das outras vezes. e ele já lá estava e eu não. agora devo lá estar só eu. eu chego sempre atrasada. e isso custar-me-ia algum dia algo mais do que tempo perdido. eu espero pra não cair de novo e oiço hope there's someone e sinto o piano arrepiar-me dos pés à cabeça.eu espero sempre. eu fico sempre. sempre sózinha.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Provavelmente a minha estúpida vida vai continuar a mesma coisa, não interessa o facto de se ser infeliz ou ingrato. somos sempre demasiado jovens para nos aperceber-mos do que temos. para dar o devido valor às pessoas. para darmos valor à vida por mais estúpida que seja. tenho 18 anos. e como a maioria das pessoas dizem isto há-de passar. ou talvez não e apenas o corpo cresça mais e se aprendam meia duzia de tretas que faremos delas lições de vida. vou sempre generalizar a minha situação pra me confortar pensando que isso é o melhor. que há quem seja como eu. grande ideia a minha. que conforto há em saber que há quem assim seja? que se sinta infeliz. não gosto de me dizer infeliz ou de me sentir. infeliz é alguém que perde alguém, infelizes são os que vivem em situações de pobreza extrema. e eu. eu nem infeliz me posso dizer. tenho tudo o que um ser normal pode desejar. tenho uma familia. uma casa. tenho tanto e tão pouco. eu já não sinto. já não convivo com as pessoas. eu fiquei parada entre o ser feliz e infeliz. e ninguém arranjou uma descrição para o meio termo em que me encontro. talvez fosse estabilidade. estabilidade quê? racional? mental? não. não me pareçe que me sinta estável em qualquer ponto da minha vida. olhando-me não consigo ver a normalidade do meu ser. não consigo contemplar nada em mim. não me consigo respeitar. nem respeitar mais ninguém. a familia tornou-se distante. eles acham que isto é uma fase e agora tendem a ignorar o facto de eu nunca sair de casa. ainda me julgam feliz. bastante inocente e bastante normal. lá no fundo acham que tenho mesmo amigos na escola ou em algum lado. nunca recebi uma pergunta por parte deles em quererem saber se sou feliz. acham sempre que tenho um namoradinho escondido algures e que faço como todas as raparigas da minha idade tudo. e se lhes dissesse o que não sou? quanto lhes ia pesar isso? e se soubessem quantas vezes choro por estar sózinha? não sei até que ponto mudariam as coisas. até que ponto melhorariam. até que ponto me iam achar louca e me internariam num manicômio. os loucos já não se apercebem mais da sua situação penso eu. não estão cientes do que sentem, nem agem de forma normal. talvez. ou talvez não. nunca vou poder saber. e se também se sentissem abandonados? e se tivesse alguém para desabafar. como é ter alguém a quem contar isto? e poder chorar. chorar até não doer mais. em quê que me tornei? que familia desfeita é esta. o ano começa e vai-se dormir. já não se festeja mais nada. a vida já não se deseja. os sonhos já não precisam ser pedidos. isto é vazio. e não há ninguém aqui. ninguém a ler isto. não faço pedidos estúpidos porque ao acaso sonho com alguém que vejo constantemente. sei-lhe o nome. e que saberá ele de mim? nada. nada é suficiente para alguém como eu não é? isto é estupido. e não mereço a vida que tenho. quem hei-de mereçer eu então? se é que a vida é feita de se mereçer alguém ou não.