domingo, abril 25, 2010

quarta-feira, abril 07, 2010

A morte perdura de olhos abertos num desassossego eterno.




(Depois de Noite e Neblina)

Muito sinceramente, começo a duvidar que a maior ambição dos portugueses é tornar-se dançarino. Não esqueçendo o desejo já de longo prazo da carreira de cantor.
Agora mesmo muito, muito sinceramente. Não nos vamos tornar numa meca do bailado, nem sequer no reino das popstar semi pimba. Creio que já era hora de se estupidificar menos nesse objecto que nasceu somente para estupidificar. E ainda p'ra mais em massa.

segunda-feira, abril 05, 2010

No centro há uma morte, há uma sombra de crime. a sombra das horas, o mar sobre o vermelho. o gato branco enjaulado, pingando a tormenta cor-de-vinho na manta. O veneno corre assassino, em motim. no centro há a espera e a tua ausência piga-me à memória o negrume da revolta. era um animalperfeito de brancura translucida, manchado, crivado pelo homem-fera. na sombra há uma morte que cobre o centro da solidão. há um rio da sangue, que inunda as raizes, incendeia o espaço e aniquila a sua perfeição. era um animalperfeito impregnado de beleza eterna. era um animaleterno diluido na melancolia da solidão.

domingo, abril 04, 2010

Os corpos marchavam lentos, levados pela crença milenar. Assim nasceu a grande máquina. Em tempos houve de facto o modernismo. O homem mais racional, menos poluído, mais desmascarado. Não era um coração de plástico, nem um coração mecanizado. ainda não era cinemático. Hoje a demanda foi assassinada por designios maiores de valor menor. A máquina semeia a devassidão entre o homem-fera. Provavelmente seriamos mais férteis nesta terra estéril, não explodisse em nós o barulho surdo da modernidade a abstrata inconsciência da mente desolando a vida em tempos de paz. O homem-fera, a grande máquina, quero dizer, o grande pensamento vazio, esmagado, corroído, despedaçado pela desnecessária necessidade de ter. O homem-fera, a visão amarga. Perdeu o sossego e o perdão, cheira a desastre e a ausência, a velocidade, direi, é esmagadora. O homem-fera não dorme nesta selva cinzenta de animais tristes. O homem-fera esqueçeu o rasto dos ossos que o antecedeu. Luta a céu aberto a descrença milenar.
Agora estás arrumado, calcinado e em branco.
surges entre as palavras, coagulado, empoeirado.
és abstrato e mecanico e absoluto.
surges no fim com a solidão tóxica e com a dor petrificada no peito.
explodes com o barulho demolidor das luzes.
não podias ser tão intermédio, nem devias ser absolutamente nada.
agora bates na pele, infiltras a absoluta perdição no sangue.
perturba-me ver-te mudar de cor, ver-te atravessado no meio da casa.
no fim, isto é, no fim do mundo, quando ele chegar,
estarás por cá, enrraizado,
a reluzir a tua cor branca ou amarela, quimico e puro na memória.
eléctrico nas mãos e no ruido.
puro, nesta casa solidão da cidade nocturna.
a tua máquina tem um botão oculto,
a tua máquina está ao abandono.
a tua máquina está morta.
as tuas veias já não brilham em tons de metal.
a tua máquina vai ser demolida, vai criar raizes e ferir a memória.
és um ser soberbo,
és o ser absoluto e masculino.
extingues-te.
a tua falta tritura-me os dedos,
cobre-me as mãos com sangue cor de tangerina.
aperto tanto quanto posso o deslumbramento da tua morte,
és sangue de poeta,
frágil na alucinação.
decompõem-se os designios cósmicos inconclusivos 
e a dor de te pensar em absoluto e concreto.

ainda sobre deus:
deus é cinemático. às vezes fala italiano, hoje fala sânscrito. o que me leva a pensar que também é intemporal e eterno. é, concluido, cinemático, poliglota e megalomano.

sexta-feira, abril 02, 2010



Foi o amor. E pensar de mais. E essas outras coisas ocultas. Secaram-me o coração.

Ou então foste tu.
o deus ri e faz a sua dança macabra. ás vezes penso que ele é um mágico que nos vais piscando o olho e que nos envia barcos em direção à eternidade, mais ou menos como um autocarro sem paragens. andamos por cá a venera-lo, a beija-lo e ele acaba sempre por se meter dentro da tal caixa de madeira ou lá faz um truque e transforma-se em cinza. transformou-se numa coisa ausente, que aparece quando quer. ninguém gosta disso, do seu jogo de escondidas e de palavras pouco claras. é dificil pensar as coisas de uma maneira pouco concreta, também já faz pouco sentido pensar, somos umas máquinas, o deus ou o semi deus pensa por nós, aliás, o deus gosta de aparecer na televisão, mas também é só de vez em quando, não fosse tornar-se um hábito perigoso e a ociosidade ser maior. ele é um tanto preguiçoso, já não escreve e o pouco que deixou por cá é pouco claro, já pensei se seria uma anedota, sim, porque andamos em guerra a tentar adivinhar que deus será. por mim pode ser um tipo que faz magia e que envia mensagens para o telemóvel, aparece na televisão e que escreve de forma concreta. não que não o seja, apenas se limita à magia da invisibilidade e raramente me pisca o olho. nunca ninguém disse que ele era uma coisa má, porque se supôs que ele era a coisa boa, uma coisa invisivel mas boa. ou ninguém vê maldade neste jogo de xadrez transformado em guerra, ou o confundem com todas as sombras de bondade. é natural, seremos morte nada melhor que dançar, afinal o corpo está doente e a alma sofre de cancro, o olhos, esses estão cegos, quem se importa com aquilo que está escrito, ou quantas formas toma o deus, a verdade absoluta não se questiona, nem que seja mentira, o senhor deus disse e pronto, está dito, não me perguntem que deus. ele não pisca o olho à Marta, nem joga às cartas com ela, nem nunca passa na sua televisão.