quinta-feira, outubro 22, 2009

Esta Velha Angústia

Esta velha angústia,
Esta angústia que trago há séculos em mim,
Transbordou da vasilha,
Em lágrimas, em grandes imaginações,
Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror,
Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum.

Transbordou.
Mal sei como conduzir-me na vida
Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma!
Se ao menos endoidecesse deveras!
Mas não: é este estar entre,
Este quase,
Este poder ser que...,
Isto.

Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,
Eu sou um internado num manicômio sem manicômio.
Estou doido a frio,
Estou lúcido e louco,
Estou alheio a tudo e igual a todos:
Estou dormindo desperto com sonhos que são loucura
Porque não são sonhos.
Estou assim...

Pobre velha casa da minha infância perdida!
Quem te diria que eu me desacolhesse tanto!
Que é do teu menino? Está maluco.
Que é de quem dormia sossegado sob o teu teto provinciano?
Está maluco.
Quem de quem fui? Está maluco. Hoje é quem eu sou.

Se ao menos eu tivesse uma religião qualquer!
Por exemplo, por aquele manipanso
Que havia em casa, lá nessa, trazido de África.
Era feiíssimo, era grotesco,
Mas havia nele a divindade de tudo em que se crê.
Se eu pudesse crer num manipanso qualquer —
Júpiter, Jeová, a Humanidade —
Qualquer serviria,
Pois o que é tudo senão o que pensamos de tudo?

Estala, coração de vidro pintado!

Álvaro de Campos, in "Poemas"

domingo, outubro 11, 2009

Eu não prometi nada ou tampouco esperei o que quer que fosse. Deviam fazer o mesmo e esperar somente nada de mim. 
Que outro rosto esperam? Algo que temem? Tão profundo e insensível. Tão dolorosamente só. o ser. a alma pesada. o aspecto complexo que deixar-vos ia perplexos. o reflexo daquilo que afinal sou. Insuportavelmente só. Quebrada por fora até ao fim da alma. 

Não. Não vos quero definitivamente mais. não vos preciso aqui a adivinhar quem sou. a ignorar todos os dias o espectro que vagueia perante vós. 

longe daqui, sem nada por dentro.


Piano e poesia.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Derrotada e com saudades do meu gato.


Quase morta,  nada humana.


Sem memória da memória.


Só.
Dor.